...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

segunda-feira, 30 de maio de 2011

É MUITO ESTILO

BB, foto de Avedon

Gunther Sachs, herdeiro, industrial, investidor, coleccionador de arte, fotógrafo e desportista, suicidou-se a 7 de Maio no seu luxuoso chalé em Gstaad. Pobre fim para um dos mais célebres playboys do século passado, nascido no germânico palácio de Mainberg.
Uma das suas histórias mais conhecidas prova como viveu: conquistou a sua mulher em Saint Tropez, dias depois de conhecê-la, mandando atirar milhares de rosas dum helicóptero, sobre a piscina da mansão da nobre dulcineia. A sua graça, Brigitte Bardot.
O casamento não durou muito (um ano com BB são 10 anos com qualquer outra mulher, disse ele... já casado com a sua 2ª mulher, uma modelo sueca), mas existe romantismo maior? Claro, os bolsos atulhados facilitam a criatividade.

Não sei como morreu, mas deve ter sido duma forma pragmática. Morte com estilo, não há como a de Petrónio. Aristocrata abastado, foi governador e cônsul da Bitínia (na Turquia) e chegou a conselheiro de Nero, que o nomeou árbitro da elegância (arbiter elegantiae) em 63. A roda da fortuna mexeu, Petrónio foi acusado de traição e escolheu morrer com finèsse.
Conta-nos Tácito, na sua obra Anais:

Petrônio consagrava o dia ao sono, e a noite aos deveres e aos prazeres. Se outros chegam à fama pelo trabalho, ele adquiriu-a pela sua vida descuidada. Não tinha a reputação de dissoluto ou de pródigo, como a maioria dos dissipadores, mas a de um voluptuoso refinado em sua arte. A própria incúria, o abandono que se notava nas suas ações e nas suas palavras, davam-lhe um ar de simplicidade, emprestando-lhe um valor novo. Contudo, procônsul na Bitinia e depois cônsul, deu prova de vigor e de capacidade. Voltando aos seus vícios ou à imitação calculada dos vícios, foi admitido entre os poucos íntimos de Nero e tornou-se na corte o árbitro do bom gosto: nada mais delicado, nada mais agradável do que aquilo que o sufrágio de Petrônio recomendava ao príncipe, sempre embaraçado na escolha.

Nasceu daí a inveja de Tigelino, o prefeito do pretório e poderoso conselheiro de Nero, que receava um concorrente mais hábil do que ele na ciência da volúpia. Conhecendo a crueldade do imperador, sua qualidade dominante, insinuou que Petrônio era amigo do conjurado Flávio Scevino; em seguida comprou um delator entre os escravos do acusado, sendo-lhe vedada qualquer defesa e mandando prender membros da sua família. O imperador encontrava-se então na Campânia e Petrônio tinha-o acompanhado até Cumes, onde recebeu ordem de ficar. Ele, sabendo que o seu destino já estava marcado, repeliu tanto o temor quanto a esperança, mas não quis se afastar bruscamente da vida. Abriu as veias, fechou-as depois, abrindo-as novamente ao sabor da sua fantasia, falando aos amigos e ouvindo por sua vez, mas nada havia de grave nas suas palavras, nenhuma ostentação de coragem; não quis ouvir reflexões sobre a imortalidade da alma, nem sobre as máximas dos filósofos: pediu que lhe lessem somente versos zombeteiros e poesias ligeiras. Recompensou alguns escravos e mandou castigar outros; chegou a passear, entregou-se ao sono a fim de que sua morte, ainda que provocada, parecesse natural.
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