...e depois, com bigodes de leite, pedem mais paciência e esforço ao povo, que a "vaca 'tá seca".

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

CULTURA DE ALMANAQUE


Há uns bons anos, fui convidado para substituir um Professor em licença sabática, na cadeira de Agricultura Geral. Agradeci o convite, dizendo que não percebia patavina sobre o assunto. Aprendes, foi a resposta do Sr. Professor. “Para dizer só o que está escrito nos livros, não é preciso um professor, basta ler; critiquei os meus professores que não sabiam mais nada, não faria o mesmo”, disse. Ia lá passar vergonhas com alunos que sabiam certamente mais sobre fresas que eu.
Se não me engano, tirei a minha nota mais baixa em agricultura, sou nisso um zero à esquerda*, e pareço um queijo suíço para reter a informação. Porque faço visitas a explorações pecuárias, para fazer conversa, bem dava jeito conhecer os "artefactos" e saber ao menos as alturas de sementeira, monda ou colheita do milho, da aveia, do feijão, da batata. Olhem, sei da cereja, que se apanha lá para Maio.
Está confessada a ignorância. Procura-se almanaque.

Tenho um grande respeito pelos agricultores que visito, para os quais essa informação não é uma incógnita, faz parte do ADN.
Respeito pelo que fazem de sol-a-sol, ao estio e à geada, e pela falta de retorno, pois o minifúndio está ligado à máquina, definhando lentamente: não dá rendimento (as rações multiplicaram o preço, mas os animais vendem-se a preços de há 8-10 anos – como o custo subiu no talho, ‘tá-se a ver quem aumenta o lucro, o intermediário pois então) e têm uma vida realmente LI-XA-DA, que se vê na pele curtida, nas costas curvadas, nas mãos calejadas e artríticas.
Os filhos não querem saber dessa vida (quem os critica?), os pais mantêm os campos por uns parcos subsídios e porque é o que fizeram toda a vida. A pequena lavoura vai morrer com esta geração de heróis, é uma questão de tempo. E o problema é de todos, por 2 ou 3 motivos: soberania alimentar e défice externo, ordenamento do território, permeabilidade dos solos e prevenção de incêndios. Chega-vos?
Nós, “urbanos terciários”, criticamos os agricultores porque pedem dinheiro pela seca e pela cheia, pelo calor e pelo frio, mas a verdade é que o trabalho não depende só deles: 2 dias de granizo podem destruir meses de trabalho.

* Sobrevive-me uma planta em casa, resistente a ataques nucleares. Ainda me ofereceram-me certa vez uma “Alegria do Lar”, mas – ironia – morreu por falta de empenho e competência.

1 comentário:

  1. Essa planta resistente a ataques nucleares é a Ginkgo biloba?
    Foi a primeira manifestação de vida após a explosão da bomba atómica em Hiroshima.
    Não te esqueças de comprar o Borda d'Água em janeiro. Tenta ter a 'Alegria do Lar' outra vez (por teimosia) e não a regues no inverno.
    Abraço.

    ResponderEliminar